Já há muito que não ia até a Urzeira no Soajo e tinha uma vontade de partilhar aquele local, trilho muito pouco percorrido e conhecido. Dois dias depois do meu aniversário seria o local ideal para o celebrar. Quis o destino que de todos os convidados especiais que convidei, nenhum pode vir. Não disse nada a ninguém de minhas intenções, queria que só o destino interviesse. De todos os presentes, posso dizer que foram as forças cósmicas que quiseram que eles se encontrassem ali naquele momento, ou então a própria vontade deles.
Rapidamente juntamos nos nos Arcos de Valdevez. Depois de sabermos ao certo quem tinha o quê, resolvemos passar por um talho e comprar dois costeletões de vitela para assar, eu sabia que lenha não faltava por perto e local para uma fogueira também havia. Rapidamente mas após alguns percalços, chegamos ao local onde se inicia o trilho, um pouco antes de Adrão no Soajo. Dividimos um pouco do peso de minha mochila por todos e começamos a nossa ascensão, sim porque embora o percurso fosse curto, era bastante íngreme. Claro que minha mochila ia bastante pesada, também não disse a ninguém o que la tinha, queria fazer-lhes uma surpresa. Na subida pelas Barras, houve tempo para apreciar a paisagem que é fabulosa, São Pedro abençoou-nos com um tempo fantástico. Chegando a Portelinha descansamos um pouco para repor as energias e claro mais uma de conversa com um residente que reconheceu, de outros encontros serranos o Makadanga, meu afilhado nas montanhas. Continuamos todos alegres e bem-dispostos na montanha acima. Todos queriam conhecer a Cabana do mexicano, nome dado por uns colegas que de facto há uns anos atrás esta cabana tinha um telhado de colmo que mais parecia uma cabana mexicana. Ao chegar a dita cabana, meus colegas ficaram deslumbrados com a beleza do local e rapidamente se localizaram. Como é possível passarem durante anos a escassos metros daquele local e nem sonhavam da existência daquela cabana?
Chegamos cedo e rapidamente todos começamos a recolher lenha para o nosso jantar e depois para aquecer a noite. Como ainda era cedo começamos a grelhar chouriços e alheiras para o aperitivo. Na minha mochila trazia um bolo de aniversário, uma garrafa de champanhe e uma garrafa de vinho do Porto que a Borboleta teve a gentileza de carregar. E assim brindei os meus colegas com esse pequeno mimo. Fomos comendo e bebendo, todos estavam bem dispostos e encantados com o local e eu satisfeita por poder partilhar aquele momento. Fiquei quase o tempo todo a tratar dos grelhados, queria os mimar, sentir prazer só pelo facto de os saber satisfeitos. A Europa, lá vinha de vez em quando me trazer algo para comer a boca, o Jota Preguiçoso não me deixou passar sede e lá vinha ele com um copito de vinho. Mas todos deram do seu melhor e eu senti isso. Senti-me tão bem, tão em paz, tão feliz e radiante. Quando escureceu apareceram todos em coro a catarem os parabéns com um isqueiro improvisado de vela… Fantástico! Nunca me tinham cantado os parabéns na montanha. Geralmente festejo sempre sozinha, este ano pela primeira vez, levei companhia e que rica companhia! A noite avançava e pouco a pouco meus colegas foram se recolher e eu, bem eu fiquei a fazer companhia ao lume, há bela fogueira que me aquecia… Já há muito que não tinha um momento a solo, assim a volta de uma fogueira. Fiquei ali sozinha cerca de hora e meia a olhar o lume, a deixar-me levar pelo simples prazer de ali estar. Fiquei varias vezes atenta para ver ou sentir a presença de um lobo, mas nada. Fiquei, mais uma vez a questionar-me porque não sinto medo quando estou ali? Porque tudo parece sempre tão simples, tão bom, tão cheio de nada e cheio de tudo ao mesmo tempo, tão precioso! Deixei que a noite me envolvesse, senti o abraço da lua que se escondia por vezes por entre as nuvens, deixei-me acariciar pelo vento, senti o beijar da briza e deixei-me encantar pelas declarações de amor da pequena fonte que ali havia. Doce sinfonia, mel para meus ouvidos já tão carenciados. Fiquei sentada longamente junto a fogueira que ia alimentando devagarinho e deleitei-me com aquele cenário escuro no qual via tudo, e fui-me recolher.
No dia seguinte acordamos com o tempo a ameaçar chuva. Levantamos cedo, tomamos o nosso pequeno-almoço, arrumamos tudo, deixamos mais limpo do que quando chegamos e regressamos aos carros pelo mesmo caminho, agora em sentido oposto, com uma vista diferente mas já debaixo de chuva miudinha. Mas como dizem os franceses “ Não há chuva que molhe o verão”. E como nos nossos corações só havia verão até podia cair uma chuva torrencial que esta não iria molhar o verão que ia nos nossos corações.
Chegando aos carros ainda passamos por uma pastelaria para convivermos mais um pouco antes de regressarmos a nossas casas.
Eu e tenho a certeza que meus colegas também, regressamos com a alma bem leve, com um sorriso radiante no canto dos lábios, com a paz de espírito que só a montanha nos proporciona e com a vontade de la voltar e ver o famoso por do sol.
Agradeço á Europa e ao Picos, ao Jota e á Borboleta, ao Makadanga e a Flamingo, ao Açore e a Messe por terem partilhado comigo um fim-de-semana de puro deleite…
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