E há dias que por mais que chova, por mais que a neblina, a bruma ou o nevoeiro nos cegue a vista e nos turve o espírito… O olhar vigilante da alma, esse permanece, nada lhe escapa. Pressente, sente e vê tudo a seu redor....
Após um bom jantar, uma lasanha de atum divinal, regada com um bom vinho, deliciei me com um filme “Instinto”, um baileys e a companhia da Alice e do David. Um serão muito fora de serie mas muito muito agradável. Deitei me, adormeci a pensar no filme que acabava de ver…fantástico.
Levantamo-nos, as mochilas já estavam prontas e lá fomos nos. Chegamos a Parede do Rio e o Zé e a Catarina já estavam a nossa espera… Beijinhos e abraços de bom dia e lá fomos os 4 no 4X4 do Zé. Senti o prazer que todos emanavam… O Zé vibra com a serra que o viu nascer, ali via se o orgulho de ser um homem do barroso e a satisfação com que falava da sua terra era de louvar. A Catarina estava a iniciar-se nestas andanças mas notava-se o brilho nos olhos dela e o sorriso da serra estampado no rosto, é que esta menina também é da terra… A Alice, essa sente a serra como eu, sente as emoções a flor da pele…
Conforme íamos avançando na serra, o Zé ia relatando historias passadas, lendas de Frei Gonçalves Coelho, peregrinações e promessas… Historias de gente da terra, gente com referências, gente com vida, gente com paixão… A Alice ora ia a frente para registar os momentos, ora ia atrás num “tête a tête” com a serra. Lá ia se desviando de vez em quando do trilho para satisfazer a sua curiosidade… O prazer e a satisfação estavam estampados no seu rosto. A Catarina esbanjava um sorriso que mais parecia um postal angelical de todas as vezes que se abria para nos… E eu… Ah!! Eu… sinto sempre tão plena quando estou lá… Meus olhos pouco viram, o nevoeiro estava muito denso, mas os olhos de minha alma, esses viram todo. Nada escapou. Vi cada penedo, cada fraga, cada ribeiro, como poderia esquecer o que um dia cravaste no meu corpo, no meu ser?… Íamos andando e sentia por mais incrível que pareça a tua presença, o vento soprou e vislumbrei a tua silhueta, do lado esquerda a menos de 30 metros estava a Roca Sendeia, linda nunca tinha visto de tão perto. E assim sendo do lado direito só poderia estar a imponente Fraga de Brazalite. Verificamos no mapa e depois no GPS, era mesmo não havia margens para duvidas…
Como a progressão estava a ser boa o Zé desafiou-nos a subir até ao Pico da Fonte Fria… mas porque é que eu tenho sempre de aceitar esses desafios? Porque é que sinto sempre tanto prazer em subir e subir? Eu queria, eu queria muito ir até lá meu corpo ansiava pelo teu… Então fomos subindo lentamente o Zé foi nos ajudando em algumas passagens.
Conforme íamos subindo, eu sentia me cada vez mais, me fundido em ti. Eu fazia parte integrante daquela serra e ela de mim… Senti teu corpo quente, nu, despido de preconceitos junto ao meu… senti teu cheiro… a terra… e mais um pouco estávamos quase a chegar ao topo… Senti a vontade que tinhas de me ter nos teus braços, de me possuir, de me amar… Senti te feito um bom vinho fervilhante, fogoso, louco preste a ter me. Olhei ao meu redor, apreciei te, olhei te nos olhos, vi a tua alma e saboreie te, como se saboreia um bom vinho “chambré”, muito lentamente... num cálice de cristal... o mais nobre que tenho... e o mais frágil também.
Ainda tentamos a ultima parte mas a humidade da rocha tornava a ascensão demasiado perigosa… então resolvemos descer mais sensato, faltavam só os últimos 3 ou 4 metros. Fomos descendo já mais rápido para manter os corpos quentes a temperatura tinha descida ai uns 4 a 5 graus…
A Catarina foi nos acompanhando muito bem, seguia muito bem o meu ritmo e o do Zé. Já a Alice, meu Deus, a cada passo que dava em direcção ao carro, eu sentia a dor da ferida aberta do regresso… Ela não queria ir embora, o sorriso já estava mais apagado… conheço tão bem esse sentimento… a despedida… a saudade que já se prevê…
Minha Amiga vais ter de aprender a despedir te com o sorriso nos lábios, um até amanhã ou até logo… e voltar, voltar sempre que poderes… Porque a cada despedida a serra esta a dar-nos a oportunidade de voltar e a cada reencontro, o fogo da loucura e da paixão volta a ascender e o prazer cada vez mais intenso, maior e mais duradouro…
E eu… eu voltarei a estar contigo… com a minha Montanha…
De regresso ainda paramos num café para aquecer o corpo e repor energias... uma boa conversa tambem veio a calhar...convivio espectacular em volta de uma lareira... Acabamos as duas encantads da vida, de regresso a casa ao som dos Roxettes... "Must have been love..."