terça-feira, 31 de janeiro de 2012

No teu Olhar

A noite escura transformei em luz,
E o ar gélido transmutei em calor.
Era tão evidente mesmo a contraluz
A grandiosidade do teu ser... o teu real valor...

Não sei se foi feitiço,
Encanto ou magia...
As bruxas andavam a solta,
Era o teu olhar que lá havia...

Não procures definir,
O que não tem definição.
Escreve o que te vai na alma,
E segue teu coração.

Nos encontraremos certamente
Aqui ou em qualquer lugar.
Brilharemos longamente,
Até a noite madrugar.

A liberdade reinará
e a felicidade brilhará,
Não fosse eu a “Felicidade”...
E tu... a “Liberdade"...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A "Felicidade" e a "Liberdade"

Senti o teu olhar,
Falei com tua alma.
Aqueci o teu dia,
Tua noite, iluminei com calma.
Aos teus pés me deitei,
E os trilhos suavizei,
Para que pudesses passar,
E a montanha poderes amar.
Sorrisos e alegria,
Foi uma constante nesse dia,
Não fosse eu a “Felicidade”...
E tu... a “Liberdade”...

"White Angel"

domingo, 29 de janeiro de 2012

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Se te Abaixasses, Montanhas!

Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a mão
daquele que não me fala
e a quem meus suspiros vão.

Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a face
daquele que se soubesse
deste amor talvez chorasse

Se te abaixasses, montanha,
poderia descansar,
Mas não te abaixes, que quero
lembrar, sofrer, esperar.

Cecilia Meireles, in "Poemas 1947"

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

VIDA...

   Foto de Osvaldo Oliveira
                    no Pico da Nevosa
Todos os dia ao deitar,
Vejo a esperança dum amanhecer de alegria.
E todos os dias ao acordar,
Vejo a magia de um novo dia.

Essa sôfrega que sinto pela vida,
Não tem tempo nem mania.
Tem um tempo que é presente,
E que celebro abertamente.

Alegria, paz e amor já há muito semeados,
Pelos trilhos, vezes sem conta calcorreados.
Hoje é tempo de colheita,
Pois já la vai o tempo da ceifa...

"White Angel"

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Tempo

Foto de António Cunha

 Tempo, definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
  O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

31-12-11 Gerês - Frémito do meu corpo a procurar-te...



Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele,
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas...

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"


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28-12-11 Fafião-Touça-Amarela-Bicos Altos-Fafião




Dia 28 de Dezembro, estava de ferias e resolvi aceitar o desafio de uns amigos FB, eles também amantes do mais bonitos cantinho de Portugal. Encontrei-me com o Vítor em Braga e seguimos os dois para Fafião onde nos esperava o António, o Álvaro e o Bruno.

Rápido foram feitas as apresentações e muito rapidamente também já conversávamos como se de amigos de longe data se tratassem. Na aldeia ainda tivemos um tempinho para saudar a Dnª Fernanda que quando me vê, faz sempre uma festa. Duas de treta com o Sr. Alcides e a Dnª. Maria do café Fojo do Lobo, fui lhes dizendo por onde ia andar, eles sentem-se sempre mais confiantes sabendo por onde os montanheiros andam, questão de saber onde procurar se algo de ruim acontecer.

Começamos a nossa caminhada. Já tinha pensado no percurso que iria fazer, queria que fosse um belo dum percurso onde poderiam se deslumbrarem com as paisagens pois o António e o Vítor também são “caçadores” de belas fotografias... E que belas que elas saíram... Subimos até a Vidoal pelo estradão que só o Álvaro conhecia, embora eu tivesse sugerido irmos de jeep até lá, a reacção de quem não conhecia, foi a que todos temos “o quê? Viemos para caminhar e vamos caminhar”. E assim foi, claro que a subida foi durinha., eu própria não gosto daquela subida,. Caminhar em estradão é algo de um pouco penoso para mim e para os meus colegas também foi.
Sentimento que se dissipou mal começamos a entrar na Quina das Agulhas, a visão de Porta Ruibas no final do vale não deixa ninguém indiferente a tanta beleza... Ao longo desse trilho a maquina do António não parava, um verdadeiro regalo vê-los a deliciarem-se com tanta beleza e a perpetuarem a serra através de um clique. Fui caminhando serenamente durante algum tempo ao lado do Álvaro, montanheiro com quem já me tinha cruzado por duas vezes na serra, uma vez acompanhada, outra vez sozinha. Ficam sempre sem saber o que pensar de uma pessoa que se aventura na serra sozinha daquela forma. Sinto que depois de me conhecerem, tudo faz sentido e entendem a minha paixão pelo Gerês que não é nem mais nem menos do que a deles, só é expressa de maneira diferente... Chegando a Touça paramos para um breve lanche, um tempo para saborearem cada recanto, trocar impressões de quem já por la passou, recordar momentos inesquecíveis... Recordar o Luís Vendeirinho que me touco profundamente na minha primeira caminhada a seu lado, assimilar as emoções fantásticas que só naquela serra sinto.
Começamos a subir o Rio Laço por um trilho marcado pelo tempo e pelos pastores. Sentia-me radiante, feliz com uma vontade louca de gritar o quanto estava feliz, mas não conhecia muito bem meus companheiros para poder cantar como faço ou abraça-los e poder contagia-los com o melhor que há em mim. Fui me contendo.. não muito... as vezes é muito difícil esconder a minha alegria.. mas acho que mesmo assim eles sentiram a felicidade que eu irradiava...No Curral do Rio Laço mais uma vez senti o seu apelo, algo me dizia que tinha um dia de dormir ali, no aconchego de seus braços... O vale profundo me fazia sentir protegida. Deitada nos seus braços, sentia que podia pousar a cabeça no seu peito e deixar me ficar ali sem mexer, sentindo a brisa a beijar me o rosto... o ribeiro a saciar minha sede com melodias doces e a terra a aquecer meu corpo... Um dia tenho de la voltar e sentir a noite no meu corpo.
Dai subimos até a Cabana da Amarela, sempre pelo trilho, passando pela Corga de Vale Longo. Ai paramos para almoçar... O prado embora seco continua lindo aos meus olhos que se apaixonaram por ele desde o primeiro instante que o avistei... A minha alegria foi ainda maior quando junto a mesa ainda permanecia vestígios de minhas passagens com os meus colegas Nevosianos... Eles estavam ali comigo e eu senti me eufórica com a presença deles... A árvore que lá plantei estava a secar, provavelmente não ira resistir ao inverno, para o ano vou ter de lavar mais, alguma vai ter de pegar.
Paramos, almoçamos, conversamos e claro algumas... muitas fotos foram tiradas, as paisagens vistas dali são sublimes. Depois de um longo descanso pusemos pés ao caminho pelo trilho que nos levava ao Prado dos Bicos Altos... Fomos pela cumeada por um trilho lindo de morrer, cada passo que eu dava, cada pedra que eu evitava me lembravam memorias de minhas passagens por aquele trilho e recordei muitos dos que por ali passaram na minha companhia... Abrandei um pouco o passo, questão de apreciar um pouco mais os recantos daquela serra. De todas as vezes que avisto aquelas paisagens, de toda as vezes que por la passo, tudo me parece diferente, a companhia, a luz, as silhuetas das montanhas, o rochedo que não vi... o cheiro... o ar... tudo se torna encanto...tudo se torna alegria... tudo se torna paz... e eu vivo os meus sentidos plenamente.
Quando chegamos ao Prado dos Bicos Altos, um sorriso cúmplice invadiu meu rosto... Sentia me tão satisfeita, feliz por estar ali, onde um dia ali dormi, onde um dia ali descansei depois da longa caminhada... Inspecionei a cabana, ela estava fantásticas, limpa, a palha bem seca a convidar para mais uma noite e claro ainda permaneciam ali vestígios de minha passagem... Voltei a fechar a porta, um ultimo olhar no seu interior só para a despedida e continuamos caminho... a noite já estava a ameaçar...
Passamos ao lado de Pousada e descemos em direcção a Salgueiros quando fomos surpreendidos por um por do sol fantástico... Aquele momento em que a terra e o sol se fundem num só... aquele momento magico em que o céu se cobre de seu manto mais caloroso... aquele momento em que paramos boquiabertos, deslumbrados a olhar para o firmamento e desejar que aquele momento nunca mais acabe... Meu colegas regalaram-se com belas fotos e eu posei agora de uma forma , agora de outra, abrindo os braços e abraçando o mundo... imortalizando o momento para um dia recordar...
São Pedro foi generoso e abençoou-nos com um final digno de qualquer conto de fadas...
A noite escura caiu e estávamos nós a atravessar o Rio Fafião ou Toco. Adoro quando a noite cai rendida a nossos pés... Caminhar de noite para mim é magico, é magnifico... deixamos de ver e passamos somente a sentir... O cheiro e a audição passam a ser os nossos olhos... não importa o que se vê, importa sim o que se sente... Medo!!! Assustador, não consigo sentir medo naquela serra, nem de noite, também é verdade que estava acompanhada... mas que me dá muito prazer andar de noite com a lua a iluminar meus passos e Orion a zelar por mim no firmamento... Chegamos a Aldeia e claro fomos hidratar e conviver mais um pouco no Café do Fojo do Lobo, mais uma de conversa com o Manuel do Bento, com o Sr. Alcides e o olhar atento de mais um ou outro residente. Mas surpresa mesmo foi quando vi o Daniel Cruz, o GM a entrar pelo café dentro na expectativa de me encontrar ali... Ele também tinha andando na serra e na passagem de regresso a casa resolveu espreitar. Ainda bem que ele entrou pois fiquei radiante por o ver ali, matamos saudades... Despedimos-nos todos e ficou a promessa de um dia voltarmos-nos a juntar e calcorrear mais uma vez aquele pedacinho de chão sagrado... pedacinho de paraíso...

PS: Quero agradecer ao António Cunha que gentilmente me cedeu as fotos que são de sua autoria.

Clicar na foto para ver o albúm.