domingo, 17 de janeiro de 2010

17-01-10 Pitões das Junias - Fonte Fria

E há dias que por mais que chova, por mais que a neblina, a bruma ou o nevoeiro nos cegue a vista e nos turve o espírito… O olhar vigilante da alma, esse permanece, nada lhe escapa. Pressente, sente e vê tudo a seu redor....

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Após um bom jantar, uma lasanha de atum divinal, regada com um bom vinho, deliciei me com um filme “Instinto”, um baileys e a companhia da Alice e do David. Um serão muito fora de serie mas muito muito agradável. Deitei me, adormeci a pensar no filme que acabava de ver…fantástico.

Levantamo-nos, as mochilas já estavam prontas e lá fomos nos. Chegamos a Parede do Rio e o Zé e a Catarina já estavam a nossa espera… Beijinhos e abraços de bom dia e lá fomos os 4 no 4X4 do Zé. Senti o prazer que todos emanavam… O Zé vibra com a serra que o viu nascer, ali via se o orgulho de ser um homem do barroso e a satisfação com que falava da sua terra era de louvar. A Catarina estava a iniciar-se nestas andanças mas notava-se o brilho nos olhos dela e o sorriso da serra estampado no rosto, é que esta menina também é da terra… A Alice, essa sente a serra como eu, sente as emoções a flor da pele…

Conforme íamos avançando na serra, o Zé ia relatando historias passadas, lendas de Frei Gonçalves Coelho, peregrinações e promessas… Historias de gente da terra, gente com referências, gente com vida, gente com paixão… A Alice ora ia a frente para registar os momentos, ora ia atrás num “tête a tête” com a serra. Lá ia se desviando de vez em quando do trilho para satisfazer a sua curiosidade… O prazer e a satisfação estavam estampados no seu rosto. A Catarina esbanjava um sorriso que mais parecia um postal angelical de todas as vezes que se abria para nos… E eu… Ah!! Eu… sinto sempre tão plena quando estou lá… Meus olhos pouco viram, o nevoeiro estava muito denso, mas os olhos de minha alma, esses viram todo. Nada escapou. Vi cada penedo, cada fraga, cada ribeiro, como poderia esquecer o que um dia cravaste no meu corpo, no meu ser?… Íamos andando e sentia por mais incrível que pareça a tua presença, o vento soprou e vislumbrei a tua silhueta, do lado esquerda a menos de 30 metros estava a Roca Sendeia, linda nunca tinha visto de tão perto. E assim sendo do lado direito só poderia estar a imponente Fraga de Brazalite. Verificamos no mapa e depois no GPS, era mesmo não havia margens para duvidas…
Como a progressão estava a ser boa o Zé desafiou-nos a subir até ao Pico da Fonte Fria… mas porque é que eu tenho sempre de aceitar esses desafios? Porque é que sinto sempre tanto prazer em subir e subir? Eu queria, eu queria muito ir até lá meu corpo ansiava pelo teu… Então fomos subindo lentamente o Zé foi nos ajudando em algumas passagens.
Conforme íamos subindo, eu sentia me cada vez mais, me fundido em ti. Eu fazia parte integrante daquela serra e ela de mim… Senti teu corpo quente, nu, despido de preconceitos junto ao meu… senti teu cheiro… a terra… e mais um pouco estávamos quase a chegar ao topo… Senti a vontade que tinhas de me ter nos teus braços, de me possuir, de me amar… Senti te feito um bom vinho fervilhante, fogoso, louco preste a ter me. Olhei ao meu redor, apreciei te, olhei te nos olhos, vi a tua alma e saboreie te, como se saboreia um bom vinho “chambré”, muito lentamente... num cálice de cristal... o mais nobre que tenho... e o mais frágil também.
Ainda tentamos a ultima parte mas a humidade da rocha tornava a ascensão demasiado perigosa… então resolvemos descer mais sensato, faltavam só os últimos 3 ou 4 metros. Fomos descendo já mais rápido para manter os corpos quentes a temperatura tinha descida ai uns 4 a 5 graus…

A Catarina foi nos acompanhando muito bem, seguia muito bem o meu ritmo e o do Zé. Já a Alice, meu Deus, a cada passo que dava em direcção ao carro, eu sentia a dor da ferida aberta do regresso… Ela não queria ir embora, o sorriso já estava mais apagado… conheço tão bem esse sentimento… a despedida… a saudade que já se prevê…

Minha Amiga vais ter de aprender a despedir te com o sorriso nos lábios, um até amanhã ou até logo… e voltar, voltar sempre que poderes… Porque a cada despedida a serra esta a dar-nos a oportunidade de voltar e a cada reencontro, o fogo da loucura e da paixão volta a ascender e o prazer cada vez mais intenso, maior e mais duradouro…

E eu… eu voltarei a estar contigo… com a minha Montanha…

De regresso ainda paramos num café para aquecer o corpo e repor energias... uma boa conversa tambem veio a calhar...convivio espectacular em volta de uma lareira... Acabamos as duas encantads da vida, de regresso a casa ao som dos Roxettes... "Must have been love..."

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

01-01-10 - Passagem de Ano na Serra do Gerês


31 De Dezembro de 2009, mais uma passagem de ano e mais uma vez esquecida. Não os levo a mal, a minha ânsia de ir para a montanha é tanta que as pessoas já se esquecem de mim… Recuso tantos convites para sair com pretexto que tenho de deitar cedo, que no dia seguinte também levanto cedo e que tenho de ir para a montanha… Afinal o ditado é antigo mas certeiro “ Quem não é visto não é lembrado” e a verdade é que se não for nas montanhas eu não sou vista…
Tomei um bom banho relaxante já há uns dias que não tinha um banho assim. Penteei o cabelo, carreguei os meus olhos com um lápis preto, um brilho de cor nos lábios, afinal também sou mulher e embora o traje fosse de montanha, estava um toque um pouco mais feminino e festivo. Fui ter com minha avó era com ela que ia jantar, uma senhora de 83 anos com um espírito mais jovem que muitos jovens… Cozeu as batatas e o bacalhau tradicional e passamos a mesa. Quis saber como correu a minha aventura nos Pirinéus, reconheceu o brilho nos meus olhos… Delirei a contar as peripécias… ela respeita a minha paixão pela montanha… Entende que devo procurar o meu bem-estar a felicidade onde ele esta… e ele esta nas montanhas…
21h30 despedi me dela, abracei-a, desejei lhe um feliz Ano Novo, ela retribuiu e redobrou a atenção… Por favor disse ela, quando chegares liga me, se não conseguires eu ficaria muito contente se amanha me ligares a dizer que estas bem. Entrei no carro e guiei rumo ao Gerês, durante a tarde tinha alugado uma cama na Pousada da Juventude no Campo do Gerês. Tive sorte só estavam casais, tive direito a um quarto só para mim… Durante a viagem uma sensação de prazer me ia invadindo, eu estava feliz, eu ia ter com ele, eu ia estar nos braços da minha montanha. Aquela serra pequenina mas que me acolhe sempre muito bem, que me acarinha quando preciso, que nunca me abandona, esta sempre lá para o que der e vier, não contesta… ama-me. Na pequena sala de TV estavam alguns casais a espera da meia-noite para festejaram a famosa passagem. Meus pais lembraram se, lembram se sempre… não ficaram surpresos, já me conhecem. Meia-noite, lá dentro muito timidamente todos festejaram, eu vim cá fora queria sentir a montanha, queria estar o mais próximo possível queria me fundir nela. Senti o seu toque, os seus beijos, a chuva que suavemente, delicadamente escorria no meu rosto… Deitei em paz, serena, dormi nos seus braços.
Dia 01-01-10 levantei me as 9h00, dormi muito…Liguei como prometido a minha Avó, estava bem, muito bem. No refeitório para o pequeno-almoço mais uma vez chegavam aos pares… Que pessoa estranha estava ali sozinha, todos olhavam… poucos disfarçavam. Não me incomodei, estava feliz, afinal eu também dormi com ele, senti-o presente o tempo todo. Peguei no carro e a primeira paisagem com que deparei estava fantástica… A serra Amarela com os seus cumes pintados de branco, linda, magnifica imponha-se a fragilidade da aldeia submersa que desta vez nem um muro deixava antever… A Mata da albergaria contínua esplêndida, encantadora com um certo mistério.
Leonte, ainda pensei subir até ao prado e descer pela corga do Mouro, mas recordei os colegas dos Pirinéus que durante os 5 dias me disseram verias vezes “ sozinha para a serra não, não é muito imprudente”. Não fui, segui até a Pedra Bela, fiquei por lá a meditar um pouco, mas a afluência de gente era demais. Rumo a Mata da Malhadoura, ainda havia uns trilhos que queria conhecer… A montanha falou mais alto… que se lixe nunca aconteceu nada, não vai ser hoje. Equipei me e lá comecei o trilho ao longo do Rio Conho subi, subi e continuei a subir. Do outro lado do rio conseguia ver um outro trilho que um dia vou tentar. Continuei quase durante 45 minutos talvez uma hora com algumas paragens, mas chegou a uma altura que o rio me obrigava atravessar. O caudal ia tão forte e alto que não havia maneira de atravessar.
Ainda andei cerca de 500 mts ao longo do rio abaixo na expectativa de poder atravessar mas sem sucesso. Não tinha outra alternativa senão regressar ao carro pelo mesmo caminho que vim… Será um bom trilho para se fazer de verão… Ainda fiquei parada algum tempo a lanchar numa pequena clareira junto ao rio. Queria estar a sós contigo mas sentia que faltava algo naquele dia por mais incrível que pareça a serra tinha perdido um pouco do seu encanto. Mas não, não perdeu, era simplesmente a nostalgia dos Pirinéus a fazer se sentir…
Cheguei ao carro como muitas outras vezes em paz, serena, nada aconteceu… Somente o prazer de fazer parte integrante da montanha…

domingo, 3 de janeiro de 2010

26 - 30/12/09 Pirinéus com os N Aventuras



Dia 26 de Dezembro, 8h00 da manha, a mochila já estava pronta o lanche para a viagem também e eu, radiante… Estava feliz preste a concretizar um sonho com mais de 20 anos… Sem qualquer problema, (o GPS tem dessas coisas) os membros dos N Aventuras http://www.naventuras.no.sapo.pt/  chegaram sem qualquer dificuldade a minha casa. Em dois tempos já toda a gente se conhecia.

Durante a viagem houve momentos de grande euforia, alegria, felicidade mesmo e momentos de silencio nos quais relembrei a quantidade de vezes que fiz de carro aquela viagem França/Portugal atravessando aquelas Montanhas. Sonhava muitas vezes de olhos bem abertos, adolescente, sonhadora romântica… Sonhava caminhar de mochila as costas, subir aqueles cumes, escalar aqueles picos, atravessar a montanha de um lado ao outro, dormir agora aqui, agora acolá… Andar como dizem os franceses “sans toit ni loi”, sem eira nem beira… só pelo prazer de andar. Na minha cabeça imaginava longos vales verdejantes, fragas enormes, picos de cortar a respiração e cascatas frescas surgindo de lugares paradisíacos e me banhar naquela água cristalina sem qualquer pudor…

Chegamos a Torla já no final do dia, nos acomodamos no Refugio L.Briet, comemos uns “bocadilhos” e nos recolhemos, no dia seguinte tínhamos de levantar cedo… Dormi quem nem um anjo, estava no mo meio ambiente, ansiosa por começar a caminhar, com uma cede enorme de te ver, de te sentir, de me confidenciar… sinto me sempre tão bem, tão plena quando estou na montanha…incrível mesmo o que sinto.

Dia seguinte levantamos todos animados, mas um companheiro passou mal a noite, algo que tinha comido de véspera e não caiu lá muito bem… Mas resolveu subir pelo menos até ao refugio de Goriz. Durante a caminhada a progressão foi muito lenta, o companheiro adoentado e o nível da neve, muita neve, dificultou a caminhada. Mas não abalou em nada a minha felicidade, a minha alegria, a vida que me corria nas veias. Tive tempo para apreciar ainda mais a paisagem, para lhe falar, para lhe pedir conselho, para lhe testemunhar mais uma vez a paixão que me vai lentamente consumindo a alma, a paixão que lentamente me vai isolando de tudo e de todos. Por mais que minha razão me diga que tenho de me conter que a montanha não foge, que esta sempre lá a minha espera. O meu emotivo anseia pelo prazer que me proporcionas e a sôfrega que tenho de estar no meio delas e de te encontrar, um dia vai me perder…

Paramos, almoçamos no Bosque de las Hayas e continuamos… Passamos pelas Cascatas de Arripas, de la Cueva e del Estrecho, lindas, gélidas, magnificas nem o frio esfriou a minha vontade de me banhar ali… mas não, o banho não é permitido. Conforme ia avançando naquele vale sem fim ia apreciando aqueles cumes deixando transparecer possíveis passagens que o Carlos me ia confirmando de facto as suas existências. Nunca tinha conhecido nenhum montanheiro a gostar ainda mais da montanha do que eu… Foi me dando algumas dicas de progressão em neve, pois era a minha primeira grande caminhada em neve em alta montanha. É nessas alturas que a gente se apercebe que ainda tenho muito mas mesmo muito para aprender. O facto é que pondo essas dicas em prática, facilita mesmo muito a progressão. Continuamos por vezes silenciosos mas sempre em grupo a nenhum momento o Carlos deixou os companheiros mais lentos para trás. Quando chegamos as Gradas de Soaso o espectáculo foi divinal. Aquele vale que eu sonhava com um manto verde luxuriante, estava coberto de branco, o Monte Perdido lá no fundo espreitava, mais parecia um amante a espera de sua amada num vale de lençóis de pura seda branca… Esplêndido.

A altura da neve, o gelo, o mau tempo para o dia seguinte e a via ferrata submersa nas Clavijas de Soaso impediu-nos a passagem, a nós e mais cerca de 20 montanheiros que tentarem nesse dia a subida até Goriz. O mais sensato era de facto regressarmos a Torla. O Maia e a Raquel desceram naquele momento, eu e o Carlos resolvemos ir até a Cascata Cola de Caballo. Acho que no fundo nem ele nem eu queríamos descer. Isto é, sair daquelas montanhas… Regressamos os dois, grande parte do regresso já de noite… incrível não consigo sentir medo, nem de noite… Sinto me tão segura, protegida mesmo nos braços da montanha. Caminhamos longamente uma vezes falando outras vezes silenciando mas ambos sentíamos a dor do regresso. Não precisávamos de falar o nosso silêncio dizia tudo, a paixão pela montanha é a mesma.

No regresso e no meu silêncio, confidenciei lhe o meu grande carinho… e aos pés do Monte Perdido espalhei os meus sonhos… revelei me… entreguei me de corpo e alma… Por favor alma perdida, te peço… Caminha devagar, pois a cada passo dado estarás calcorreando nos meus sonhos… e eu nos teus…

O meu muito obrigada ao Clube NAventuras http://www.naventuras.no.sapo.pt/ em particular ao Carlos Moreira por me ter dado a oportunidade de participar nesta grande aventura e mais uma vez conhecer gente fantástica. Obrigada ao Maia pela simpatia e obrigada a Raquel pela alegria e jovialidade. Espero um dia voltar a caminhar convosco. Valeu mesmo…

VALES DE BIELSE E BANASQUE



CIRCO DE PINETA E CAÑON DE AÑISCLO


sábado, 2 de janeiro de 2010

Bom Ano de 2010!!!

"Todas as grandes descobertas e invenções foram sonhos no inicio. O que se pressente hoje se realiza amanhã."
(Hellmuth Unger)


O final do meu 2009 foi assim... a realização de um sonho com mais de 20 anos...
Em brève as fotos do meu sonho realizado... Mas quero mais, tenho de la voltar...Muito mais para realizar...