Durante a viagem houve momentos de grande euforia, alegria, felicidade mesmo e momentos de silencio nos quais relembrei a quantidade de vezes que fiz de carro aquela viagem França/Portugal atravessando aquelas Montanhas. Sonhava muitas vezes de olhos bem abertos, adolescente, sonhadora romântica… Sonhava caminhar de mochila as costas, subir aqueles cumes, escalar aqueles picos, atravessar a montanha de um lado ao outro, dormir agora aqui, agora acolá… Andar como dizem os franceses “sans toit ni loi”, sem eira nem beira… só pelo prazer de andar. Na minha cabeça imaginava longos vales verdejantes, fragas enormes, picos de cortar a respiração e cascatas frescas surgindo de lugares paradisíacos e me banhar naquela água cristalina sem qualquer pudor…
Chegamos a Torla já no final do dia, nos acomodamos no Refugio L.Briet, comemos uns “bocadilhos” e nos recolhemos, no dia seguinte tínhamos de levantar cedo… Dormi quem nem um anjo, estava no mo meio ambiente, ansiosa por começar a caminhar, com uma cede enorme de te ver, de te sentir, de me confidenciar… sinto me sempre tão bem, tão plena quando estou na montanha…incrível mesmo o que sinto.
Dia seguinte levantamos todos animados, mas um companheiro passou mal a noite, algo que tinha comido de véspera e não caiu lá muito bem… Mas resolveu subir pelo menos até ao refugio de Goriz. Durante a caminhada a progressão foi muito lenta, o companheiro adoentado e o nível da neve, muita neve, dificultou a caminhada. Mas não abalou em nada a minha felicidade, a minha alegria, a vida que me corria nas veias. Tive tempo para apreciar ainda mais a paisagem, para lhe falar, para lhe pedir conselho, para lhe testemunhar mais uma vez a paixão que me vai lentamente consumindo a alma, a paixão que lentamente me vai isolando de tudo e de todos. Por mais que minha razão me diga que tenho de me conter que a montanha não foge, que esta sempre lá a minha espera. O meu emotivo anseia pelo prazer que me proporcionas e a sôfrega que tenho de estar no meio delas e de te encontrar, um dia vai me perder…
Paramos, almoçamos no Bosque de las Hayas e continuamos… Passamos pelas Cascatas de Arripas, de la Cueva e del Estrecho, lindas, gélidas, magnificas nem o frio esfriou a minha vontade de me banhar ali… mas não, o banho não é permitido. Conforme ia avançando naquele vale sem fim ia apreciando aqueles cumes deixando transparecer possíveis passagens que o Carlos me ia confirmando de facto as suas existências. Nunca tinha conhecido nenhum montanheiro a gostar ainda mais da montanha do que eu… Foi me dando algumas dicas de progressão em neve, pois era a minha primeira grande caminhada em neve em alta montanha. É nessas alturas que a gente se apercebe que ainda tenho muito mas mesmo muito para aprender. O facto é que pondo essas dicas em prática, facilita mesmo muito a progressão. Continuamos por vezes silenciosos mas sempre em grupo a nenhum momento o Carlos deixou os companheiros mais lentos para trás. Quando chegamos as Gradas de Soaso o espectáculo foi divinal. Aquele vale que eu sonhava com um manto verde luxuriante, estava coberto de branco, o Monte Perdido lá no fundo espreitava, mais parecia um amante a espera de sua amada num vale de lençóis de pura seda branca… Esplêndido.
A altura da neve, o gelo, o mau tempo para o dia seguinte e a via ferrata submersa nas Clavijas de Soaso impediu-nos a passagem, a nós e mais cerca de 20 montanheiros que tentarem nesse dia a subida até Goriz. O mais sensato era de facto regressarmos a Torla. O Maia e a Raquel desceram naquele momento, eu e o Carlos resolvemos ir até a Cascata Cola de Caballo. Acho que no fundo nem ele nem eu queríamos descer. Isto é, sair daquelas montanhas… Regressamos os dois, grande parte do regresso já de noite… incrível não consigo sentir medo, nem de noite… Sinto me tão segura, protegida mesmo nos braços da montanha. Caminhamos longamente uma vezes falando outras vezes silenciando mas ambos sentíamos a dor do regresso. Não precisávamos de falar o nosso silêncio dizia tudo, a paixão pela montanha é a mesma.
No regresso e no meu silêncio, confidenciei lhe o meu grande carinho… e aos pés do Monte Perdido espalhei os meus sonhos… revelei me… entreguei me de corpo e alma… Por favor alma perdida, te peço… Caminha devagar, pois a cada passo dado estarás calcorreando nos meus sonhos… e eu nos teus…
O meu muito obrigada ao Clube NAventuras http://www.naventuras.no.sapo.pt/ em particular ao Carlos Moreira por me ter dado a oportunidade de participar nesta grande aventura e mais uma vez conhecer gente fantástica. Obrigada ao Maia pela simpatia e obrigada a Raquel pela alegria e jovialidade. Espero um dia voltar a caminhar convosco. Valeu mesmo…
VALES DE BIELSE E BANASQUE
CIRCO DE PINETA E CAÑON DE AÑISCLO
6 comentários:
Amiga estas bue de inspirada. As fotos são giras mas falta lá o cume. Só agradeço à montanha depois de lhe roubar o cume. Para a proxima teremos que a apanhar distraida.
Kiss
CM
Isto e que foi terminar 2009 em grande..
Parabéns pela aventura
MIGUEL
Miguel,
Acredita foi mesmo uma saida Grandiosa...LOL Adorei aquelas montanhas... tenho de la voltar...:)
Abraço
Carlos,
Cato já estou com saudadeessss...
Digamos que aquelas montanhas inspiraram me… bué…
Bem até agora só agradeci aos NAventuras... à montanha ainda não...;) Mas agradeço lhe o facto de nos dar a oportunidade de lá voltar e conquistar esse cume...LOL
Beijo
Edelweiss... LOL
Não dava para subir pelo "caminho" marcado?
Além das correntes há outro sítio... mais "acessível".
Torla e o Monte Perdido são sítios a visitar...com regularidade
bjs
EXCELENTE 2010
Medronho,
De facto há, mas também bastante íngreme… A progressão foi muito lenta também porque o grupo da frente ia a abrir caminho… Nada estava marcado…
Esse trilho alternativo mais longo e mais acessível, havia perigo de avalanche e ainda presenciamos uma, pequenina, mas o som que provocou deu para a gente manter respeito.
Acredita não havia condições mesmo alias os montanheiros/escaladores com MUITA experiencia voltaram para trás e aconselharam a fazer o mesmo… Achas mesmo que íamos avançar ??? E olha que íamos bem equipados com crampons, piolets, arnês etc... etc… etc… Bem como os grupos que iam a nossa frente e atrás.
Mais, depois de passar a via ferrata, até ao refúgio a abrir caminho com a quantidade de neve que havia, demorávamos cerca de 4h00, era para chegar de noite e a correr alguns riscos…
Adoro a montanha… acima de tudo respeito a em todos os seus sentidos.
Mas a montanha esta lá… não foge e eu vou voltar… Não é Carlos !!!??? Ainda há muitos cumes para conquistar e o Marboré ficou atravessado.
Bjs e um bom 2010
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