domingo, 3 de julho de 2011

23,24,25 e 26-06-11 no Gerês - 2 -

Segundo dia, 24/06  Camalhão – Freza – Chã da Fonte – Lamas do Borrageiro – Lomba de Pau – Prado do Conho –Sopé da Mourisca - Belas Brancas -  Muro – Curral da Touça

Acordei bem cedo, tinha dormido um sono só… Fiquei alguns minutos deitada no meu saco cama a realizar o que aconteceu realmente… Eu deitei-me adormeci e dormi como um anjo… Não me lembro de ter medo, dos receios, do escuro ou dos barulhos… Eu simplesmente adormeci de alma leve… Levantei-me abri a porta da Cabana e um sorriso invadiu meu rosto… Estava no Gerês… Fui ao ribeiro, lavei meu rosto, senti teus lábios bem fresquinhos nos meus… Que beijinho de bom dia mais agradável que eu recebi. Abasteci de água para o pequeno-almoço e apenas os primeiros raios de sol entravam no Curral resolvi fazer a minha saudação ao Sol: Surya Namaskar… Saudei o sol, a montanha, a natureza, a vida e pedi-lhe sabedoria para continuar a ser fiel a mim própria e entendimento para minhas questões… Tomei um bom pequeno-almoço, arrumei minhas coisas, certifiquei-me que deixava tudo tal e qual como cheguei e pus pernas ao caminho…


 Fui caminhando monte acima até a Freza, Chã da Fonte e ainda avistei o famoso arco do Borrageiro, encontrei bastante gado nas Lamas do Borrageiro e mais algum na Lomba de Pau. Durante a caminhada tentei varias vezes saber… Pedi descaradamente a montanha respostas mas ela teimava em se manter calada… Como se quisesse me dizer algo com o seu silencio… Não procurei entender muito e depois chegando ao Prado do Conho fui brindada com duas vacas e seus bezerros a brincar um com o outro, mais pareciam cabritos do que bezerros… Maravilhoso ver a vida a desabrochar a cada passo que dava… Cheguei muito cedo ao Conho, já reparei que quando ando só , o tempo rende sempre muito e num instante chego ao destino… Resolvi descansar um pouco, muito tempo… Comi algo, carreguei a minha garrafa de agua e dormi uma sesta… Não me apetecia pensar mais queria sentir o sol a aquecer meu corpo, a brisa a aflorar meus lábios e o vento a abraçar-me… E fiquei ali deitada… Meu descanso foi perturbado por um pequeno grupo de 4 Montanheiros que resolveram passar o dia em família na Montanha… Palavra puxa palavra não é que somos vizinhos de porta e nem nos conhecíamos…cerca das 13h30 já eu estava ali há algumas horas resolvi continuar afinal eles ainda iam ficar e eu ainda queria descobrir uns trilhos que chamavam por mim já há uns anitos… Em pouco tempo cheguei as Belas Brancas quem souber o trilho é sempre andar, nada de corta mato e rápido se chega lá… Ainda me cruzei com umas pessoas que me reconheceram pois já me tinha cruzado com elas mais ou menos naquele sitio há dois anos atrás… A eterna pergunta, não tem medo de andar sozinha? E eu pergunto, de quê? Só se for da crueldade humana… Mas ali não há lugar para isso. Chegando as Belas Brancas delirei com a imensidão e a grandiosidade de nossa serra, tirei algumas fotos e como só eram 14h30 fiquei ali muito tempo a apreciar a plenitude da serra. De repente sem muito pensar parecia que a montanha estava a falar comigo, me dizendo: Olha só… O que vês? Não procures respostas, tal como a Montanha as pessoas são o que são e não o que falam da boca para fora… Não o que nos queremos ouvir que elas sejam… Eu já sabia há muito que a palavra é o menos fiel transmissor da verdade, mas a verdade é que acho sempre que toda a gente age com boas intenções, até prova do contrario… e depois quero respostas! Respostas que só o futuro dará porque não há falsidade que não seja desmacarada com o decorrer do tempo… Procurei respostas nas montanhas e elas tiveram o tempo todo a minha frente… Elas são o que são… São prados verdejantes que me acolhem no meu repouso, são água fresca que me sacie a cede, são picos de plenitude e prazer. E o que me pedem em troca? Nada! Um simples passo suave de todas as vezes que piso seu chão sagrado e caminho a seu lado…

Mas como ainda havia tempo resolvi procurar por ali um trilho ou dois que sabia que passavam por ali o Sr. Agostinho já me tinha falado deles há uns anos atrás… Eu queria descer a Corga do Salgueirinho por trilho existente e não corta-mato como muitos talvez já o tivessem feito… Fui caminhando com todo o tempo do mundo quando vi do meu lado esquerdos duas mariolas bem visíveis a acenar… Resolvi seguir e ainda bem porque era por ali que passava mesmo o trilho. Claro já muito pouco trilhado mas as mariolas estavam todas lá. Chega a uma certa altura que as mariolas levavam para direcções opostas. Uma pela Corga do Salgueirinho com fragas e laje enormes demasiado perigosas para quem estava sozinha e com cerca de 14 kg as costas, e a outra ai em direcção ao Muro no vale do Rio Touça. Segui este último mas confesso que é muito íngreme, muito, demasiado arriscado para quem ia sozinha. Mas fui descendo muito lentamente seguindo cada mariola, só mesmo as mariolas indicavam passagem porque já pouco havia do trilho, mesmo assim are bem visível que o trilho so podia passar ali. A meia encostas resolvi parar e apreciar Porta Ruibas, senti uma felicidade imensa me envadindo, senti um prazer que muito poucas vezes senti… uma euforia que parecia que meu coração ia pular fora… E continuei a descer até ao Muro onde continuei, agora ja no trilho da vezeira que vem das Fichinhas até a Touça. Antes de ir para o Curral fui até uma daquelas lagoas paradisíacas e não hesitei dois minutos. Tomei ali um bom banho que me soube pela vida, o sabão rosa que levei para lavar o corpo também serviu para lavar algumas peças de roupa. Ainda era muito cedo, fiquei ali a tomar banhos de sol e agua e depois de agua e sol… Fiquei a admirar Porta Ruibas e depois o Carvalhal das Sombrosas (mais um erro na designação dos locais que numa entrada posterior eu explicarei o local exacto deste nomes).

Deitei-me no colo daquele vale, deixei que o sol tocasse minha pele e eu sentisse seu calor, deixei -me embalar pela melodia do ribeiro da Touça, deixei que a leve brisa que por ali passava beijasse meus lábios e deixei me cortejar pelas fragas enormes que se erguiam a minha frente como se de um belo pavão se trata-se, a cortejar a sua fêmea… Fiquei muito tempo ali a descansar. Depois de 2hrs a apreciar o “dolce fare niente” , lá fui até a Cabana da Touça, apanhei lenha, limpei o interior da cabana enquanto havia luz solar, preparei o meu jantar, um cafezito e fiquei mais uma vez a espera que a noite chegasse. Memorizei cada contorno fui relembrando tudo o que os residentes me foram contando, ensinando a cerca daqueles locais. Apreciei o chilrear dos passarinhos, acompanhei as nuvens no céu numa valsa desenfreada, namorei a lua por entre as montanhas e as sombras da folhagem das arvores brincavam ao esconde com as estrelas. Ja era noite bem escura quando resolvi entrar para a cabana. Ascendi minhas velas, ritual que aprecio muito, meti-me no meu saco cama e mais uma vez sentia a minha Kelly ali por perto a vigiar o meu sono. Um último pensamento antes de adormecer, eu estava pela segunda noite consecutiva a dormir nos seus braços, junto ao seu peito, na suite mais bela do melhor hotel que eu conheço.

8 comentários:

Savage disse...

Muito bem menina
já estava a desconfiar e a tua rota não está a ficar muito diferente da que eu fiz no passado dia 27, do Conho fui pelas Fichinhas
Olha se por acaso alguém vir lá perdido junto da fonte da cabana da touça um bastão é meu, só dei pela sua falta quando estava a xegar ao topo da Meda da Rocalva, tb ao subir aquelas muito ingremes fragas entre o rio Laço e a Corga do Salgueiral só me iam atrapalhar
há e no Borrageiro e passei pelo Arco e tenho uma belissima foto com o Pé de Medela ao fundo

Aguardo pelo desenrolar do teu enredo

Beijinhos

José Carlos Callixto disse...

Mais uma belíssima descrição. Poucos dias antes, também conheci as "duas vacas e seus bezerros a brincar um com o outro" que estavam no Curral do Conho. Foram nossas companheiras por uma noite, assistiram comigo aos primeiros raios de Sol do dia anterior ao solstício, ficaram a tomar conta das nossas coisas enquanto fomos aos Prados da Messe e ao Cantarelo. Quando depois nos despedimos delas, a caminho das Rocas, pareciam querer transmitir-nos um adeus especial, uma mensagem. Agora sei que nos queriam dizer ... que estavam à espera de outra alma da montanha, que chegaria 4 dias depois e as iria saudar calorosamente. Aquelas duas vacas e os seus bezerros são assim um pouco nossas, minhas, da minha companheira e tuas!

White Angel disse...

Savage!!!

Es tu com o teu bastão... e eu que perdi meus oculos entre o Camalhão e o prado do Conho...:)
Este fds cruzei-me com o Vitor, filho de um residente que foi vigiar o gado que estava no Caucão e disse me que no Curral da Touça alguem se esqueceu de um bastão que ele deixou lá... Por isso o teu bastão continua lá... Mais uma corridinha para o ires buscar ;) lol. Quanto a essas fragas entre o Rio Laço e a Corga do Salgueirinho, ja fazem parte do Caucão e provavelmente passaste mesmo ao lado da Pala do Caucão, também ha trilho por ai... Andei por lá o sabado todo..;)

Beijinhos

PS: a ver se esta semana tenho mais tempo para actualisar o bloge:)

White Angel disse...

Callixto!!!!

Agora SIM!!!
Agora entendo porque senti tanta alegria, felicidade ao ver aquelas duas com os seus bezerros! Agora entendi porque aqueles bezerros pulavam e brincavam, eufóricos! Eles já sabiam da minha vinda… e eu sabia que alguém, de alma igualmente leve já lhes tinha anunciado a minha chegada….:)
Quando continuei caminho, as mães e respectivos bezerros estavam a descansar, serenas e em paz… e eu continuei com a mesma serenidade… com a mesma paz…

PS: Um dia terei de vos acompanhar mesmo, a tia e a tua companheira… Será um privilégio para mim.

José Carlos Callixto disse...

Caminhar contigo no Gerês será um privilégio. É só uma questão de combinarmos :)

White Angel disse...

Callixto,

Este mes será impossível porque já tenho todos os fins-de-semana ocupados e uma ida aos Pirenéus a partir do dia 23. Só mesmo em Agosto porque em Setembro volto a viajar a nível profissional. Vamos nos mantendo em contacto…

Lírio disse...

Nossa!!Angel!
Como me deliciei a ler o teu texto! De repente parecia sentir tudo!!!É como viajar contigo também!!

Lembras-te o que me disse-te em relação à televisão e aos filmes?
Olha que neste espaço do blog que crias-te, conseguis-te contagiar-me com todas essa emoções e quase foi possível entrar na tua personagem também...com uma grande diferença da TV...entrar no teu filme é bem melhor, porque é real, bem real!! E tão fascinante! Lindo amiga :)

Beijinhos

White Angel disse...

Minha Doce Lírios,

Obrigada pelas tuas palavras, e claro que lembro do que disse, embora nunca pensei que entrassem no meu filme…:)
Mas a verdade é que nesses 4 dias eu fui realmente, produtora, realizadora e actriz principal do meu próprio filme…;) O facto de andar só, também torna-nos mais atentas as nossas emoções, o monólogo que nos acompanha, desperta-nos para a sensibilidade em tudo que nos rodeia e ficamos muito mais atentas a todos os pormenores. Tu sabes isso tão bem quanto eu, também o fazes e muito bem…

Beijinho docinho